Eutanásia — ainda contra o paternalismo médico

Hoje a questão é sobretudo a de avaliar a legalidade/ilegalidade da eutanásia [e mais recentemente a de saber se existe um limite de idade para a realização da eutanásia (veja-se o caso da Bélgica, onde um menor de 18 anos com uma doença terminal pode pedir para morrer)]. Esta questão, porém, parece radicar fundamentalmente numa outra, mais antiga. Se hoje se discute se um doente pode escolher morrer, e ser medicamente assistido na morte, antes a questão era a de saber se um paciente podia ser informado e participar nas decisões médicas que afectavam o seu corpo. Na década de 1950′, nos Estados Unidos (apenas um exemplo), pacientes e famílias eram deliberadamente mantidos à margem das decisões de vida e de morte. Eram os médicos que, imbuídos de um paternalismo misericordioso, tomavam essas decisões. Consentimento informado, autonomia do paciente não existiam e só foram trazidos à discussão a partir de 1970, com o movimento bioético. A eutanásia parece poder, por isso, ser alojada na sequência de todos aqueles pushings que visavam esmagar o paternalismo médico. E aqui está uma coisa interessante, lamentavelmente ausente da discussão pública e que eu desconhecia.

[Reflexão sugerida pela leitura do artigo “The Doctor Used to Know Best” publicado na revista The Atlantic]

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