Discussão interessante aqui. A certa altura alguém diz que o mundo é um sítio perigoso tanto para homens como para mulheres. O mesmo é dizer, o mundo é um lugar desafiante para todos, se queres manter-te à tona esforça-te. Pode não parecer mas estamos perante um argumento feminista. A resposta feminista às desigualdades de género passa cada vez mais por dizer que, por não existir diferença entre os sexos, ambos têm iguais direitos no acesso a cargos, privilégios, graus remuneratórios. Exemplos: 1| as mulheres podem ocupar cargos políticos não porque sejam mulheres mas porque têm igual capacidade intelectual, formação académica equiparada à dos homens, igual disponibilidade para os rigores parlamentares, etc etc; 2| na igreja católica, as mulheres podem participar e ter poder deliberativo em reuniões religiosas (ainda não podem e sentem-se tristes por isso), tais como conclaves e sínodos, não por serem mulheres mas por terem capacidade para formular e expressar opinião, por terem conhecimento da realidade sobre a qual se discute, pelo facto de as decisões saídas de tais reuniões afectarem de igual modo a sua vida.
Isto tem sentido; o seu contrário não tem. Chega a ser ofensivo dizer-se que as mulheres são necessárias no parlamento porque a sua sensibilidade pode trazer benefícios à discussão parlamentar, à formulação de políticas sociais, etc etc. [Atribuir-se tal qualidade a todo o género feminino é falacioso, todos sabemos que a sensibilidade não é exclusivo das mulheres, assim como a inclinação para o raciocínio lógico não é exclusivo dos homens]. É igualmente ofensiva a existência de quotas para mulheres [e sobre quotas nada mais direi porque me cubro de ridículo só de pensar que tal artifício existe].
Na verdade gosto tanto deste argumento — eu posso fazer porque eu sou capaz de fazer — que cheguei a aplicá-lo à minha vida, numa altura em que percebi que o mundo não anda todo à mesma velocidade e que isto de se ser razoável tem dias. É que em algumas partes do mundo ainda há homens que esperam das suas subordinadas compensação sexual em troca de benefícios laborais. Em alguns sítios ainda há homens que pensam que uma mulher só poderá manter-se no emprego (de lavar chão e pratos) se for com ele ao cinema. Sim, neste caso o uso dos tais atributos femininos é condição necessária para se poder ocupar determinado cargo. Aconteceu a mim, para desgraça do carrasco que teve de me aturar mais de dois anos, sem carícias no escuro do cinema, nem beijinhos no vão da escada. Lembras-te, carrasco, como em todos os meus gestos estava implícita a terrível verdade de que eu estava ali para ficar e de que não me podias dispensar porque eu era tão boa no que fazia que me tornei indispensável, e mandar-me embora seria visto como uma injustiça injustificável, meu desgraçado filho da put
[não preciso dizer o quanto a minha presença desmoralizou (mas não desmobilizou) as senhoras que contavam obter vantagens proporcionais ao declive do decote. sim, às vezes elas também têm culpa]